Ao entrarmos na Bolívia,
tomamos o rumo da cidade de Copacabana. A vista é muito bonita, mas não tem
nada a ver com a cidade maravilhosa. Mas, de volta ao roteiro, depois que
cruzamos a cidade de Llave, encontramos no caminho várias pedras fechando a
rodovia. Passamos com cuidado, e mais a frente encontramos mais pedras fechando
a rodovia e agora com várias pessoas impedindo que fossem retiradas as pedras.
Saí do carro e fui conversar com as pessoas para saber o que estava
acontecendo. Informaram que era um “Paro”, ou melhor, greve dos pecuaristas,
que estavam bloqueando a rodovia. Ficamos algum tempo parados esperando para
ver o que acontecia. Foi chegando carros e todos tentaram argumentar para
passar o bloqueio. Não houve jeito! Conversa com um e outro, descobrimos uma
saída, passando por plantações e no meio do campo, cheio de valas e buracos.
Saímos num comboio de cinco carros tentando a travessia. Depois de muito sufoco
para achar uma saída voltamos para a rodovia à frente do bloqueio. Andamos mais
alguns quilômetros e novamente outra turma colocaram mais pedras na rodovia.
Parece sina, pois quando fomos sair do Equador, havia greve do pessoal da
Aduana em Huaquillas impedindo a saída do país, fechando a ponte. Voltando a
Bolívia, depois de certo tempo e de muita conversa, fizemos uma “vaquinha” de
dois soles por carro e liberaram a rodovia. Dali em diante foi tranquilo.
Depois de instalados no Hotel
Utama (que em Aymará quer dizer “Tua casa”), no alto do morro, fomos comprar um
mapa turístico e dali fomos percorrer o extremo norte do lago até Yampupata. A
estrada não é pavimentada, muito esburacada e com muitas pedras pontiagudas de
vários tamanhos. Neste trecho muitos turistas vão a pé, por umas quatro horas
de caminhada e de lá pegam o barco para fazer o passeio até a ilha do sol. O
visual é fantástico, pois o lago tem a coloração azul, contrastando com o verde
das plantações e das montanhas. Ao longo do caminho, passamos por várias
pequenas comunidades, recebendo o cumprimento e sorrisos de seus moradores. Ida
e volta, com algumas paradas para observar o visual, e também para fazer o pic
nic, levamos em torno de seis horas percorrendo 39 km.
No dia seguinte, nós fomos
fazer o passeio pela ilha do sol. O barco nos até a parte sul da ilha e de lá
temos que atravessar a ilha de sul para o norte, em torno de 9 km, a pé, com
tempo de 4 horas. Caso não chegássemos até as 04:00 PM, o barco zarparia e aí
teríamos que pernoitar. Pensando simplesmente em 9 km, sobra tempo para fazer.
Agora, o Lago Titicaca, situa-se a 3.920 sobre o nível do mar, e a Ilha do Sol,
logicamente está acima disso. Então, caminhar em uma altitude acima de 4.000
mil metros, subindo e descendo ladeira, é muito difícil. Falta ar nos pulmões.
Bem, não adianta só falar das dificuldades, pois elas são pequenas diante das
recompensas pelos desafios superados. O visual é imperdível. Muitos turistas
fazem os passeios pela parte sul da ilha e depois vão conhecer a Ilha da Lua.
Mas o quente é a Ilha do Sol. Além do visual proporcionado nas caminhas,
encontram-se sítios arqueológicos e ainda possui a Rocha Sagrada, considerada
uma das mais importantes da civilização Inca. Segundo dizem as lendas, foi
neste lugar que apareceram os primeiros Incas, Mambo Capac e Mama Ocllo, filhos
do sol e fundadores do Império Inca. Levamos o tempo de 03h40min. Foi muito
legal.
Saímos rumo a La Paz e do
alto da montanha tem-se uma bela vista da cidade de Tiquina. Ali se pega uma
balsa para fazer a travessia do lago e ali tem que se negociar bastante. Há
muitos balseiros e cada um com preço diferente e cobram de acordo com a cara do
freguês. Chegando a La Paz a primeira cidade é El Alto onde fica o aeroporto da
capital. Dizem que neste aeroporto o avião não desce, estaciona, pois fica a
mais de 4.100 metros de altitude. Muitos passageiros passam mal em função da
altitude. O trânsito é muito confuso e temos que descer uma serra para chegar a
capital, a sensação é que estávamos descendo uma cratera de vulcão, pois La Paz
fica dentro de um grande buraco.
Próximo a Igreja de São
Francisco, ficamos em Hostal limpo com grande estacionamento. Neste local, fica
também o famoso Mercado das Bruxas. Neste mercado encontra-se desde sapo seco,
até feto de llama secas também. Dizem que o sapo seco é para trazer grana e o
feto de llama é para trazer sorte para o lar. O pessoal acredita nisso. O cheiro
não é dos melhores, mas tem muita coisa interessante no mercado.
Resolvemos fazer um passeio
de subir a montanha, onde tem a pista de esqui mais alta do mundo, 5.300 metros
de altitude a 35 km de La Paz. A estrada vai serpenteando, beirando a precipícios
e de repente começa a nevar e começa a mudar completamente a coloração da
montanha, passando de uma tonalidade marrom, devido a grande quantidade de
rochas para o branco da neve. Muito lindo! Neste momento, tracionei o carro
para dar mais estabilidade e segurança. O tempo começou a ficar tenso na
montanha e resolvemos descer com muito cuidado.
A vida continua e rumamos com
destino a Oruro, Sucre e Potosí. Mas para sair de La Paz rumo à cidade de El
Alto, passamos por um dos maiores perrengues da nossa expedição. Ali corremos
risco de vida. Toda a região estava em greve, com pedras na estrada, fogo em
pneus e muito índio bêbado. Fizemos várias tentativas para sair de La Paz. Na
ultima, após a TV informar que terminou as greves, resolvemos sair no dia
seguinte para ter um tempo a mais para os ânimos se acalmarem. Subimos até El
alto novamente, pagamos o pedágio e seguimos desviando das pedras. Lá pelas
tantas, vimos uma grande multidão fechando a rodovia. Paramos no acostamento e
do nosso lado uma van com passageiros. Conversei com eles e me indicaram um
caminho para o desvio da manifestação. Segui o caminho e num determinado
momento, ficamos em dúvida qual trajeto tomar. No outro lado da rua, tinha uns
manifestantes comendo, quando começaram a juntar pedras para jogar no nosso
carro. Por um instante pensei que estaria tudo acabado. Mas para a nossa sorte
a van parou no nosso lado e eles começaram a baixar a mão. Novamente indicaram
o caminho, pois era muito confuso, tinha que passar pelo meio de uma
cidadezinha, depois pelo campo. Mais adiante, tinha uma índia Aymará, fizemos
uma pergunta que ela entendeu, mas respondeu no idioma próprio e lógico que não
entendemos nada. Por sorte, indicou a direção com a mão. Todo esse trajeto,
muitos outros turistas começaram a nos seguir. Por fim, adiante vimos à pista e
tivemos que subir um barranco e dali tudo seguiu tranquilo. Depois de um bom
tempo viajando, muito longe, onde a estrada corta um morro, vi um homem
pastorando Llama. Ele levantou e vi o gesto dele de juntar algo que para mim
pareceu uma pedra. Comecei a diminuir a velocidade, quase parando, quando ele
baixou a mão e aí acelerei e a calma e tranquilidade voltou. Chegamos a Oruro,
famosa pelo seu carnaval, sendo o maior da Bolívia, nos hospedamos no Hostal
Hidalgo e fomos comemorar a nossa travessia com um belo jantar de cordeiro e
regado a vinho.
Circulamos por Potosí num
sobre e desce eterno. A cidade é muito bonita e guarda a arquitetura deixada
pelos espanhóis e também tem bons museus para serem visitados. Tem muita mina
em atividade para ser visitada. Depois seguimos também não menos bela a cidade
de Sucre, também rica em arquitetura espanhola.
Tocando a nossa viagem dentro
da programação, rumamos em direção à cidade de Uyuni onde tem um gigantesco
salar. Percorremos em torno de 220 km de estrada chão, com muito pó, mas com
belas vistas das montanhas. Da montanha tem-se uma linda visão da cidade de
Uyuni no meio de um grande deserto.
Procuramos uma agencia de
turismo para fazer um passeio de um dia pelo salar. Optamos por agencia devido
o salar estar em sua grande parte coberto por agua, e como sabem, agua salgada.
Isso destrói o carro e ainda se a agua respingar no radiador do carro e com o
calor ela seca e impede a passagem do ar e o carro pode ter superaquecimento e
fundir o motor.
O passeio é fantástico, no
meio chega-se ao hotel de sal, onde cama, mesa, paredes é tudo em pedra de sal.
Nesta região a extração do sal é só cavar. Quanto ao almoço foi na Ilha do
Pescado, sendo a carne de llama o prato principal. O Salar de Uyuni é um mar de
sal, e no meio tem a já mencionada Ilha do Pescado, situada a 3.653 metros de
altura, com seus cactos gigantes com mais de 12 metros de altura e segunda as
placas alguns com mais de 120 anos. Na volta pegamos uma trovoada a qual deu um
belo espetáculo, inclusive com arco-íris.
Voltamos ao nosso roteiro, e
tudo pronto para passarmos pela laguna colorada, mas ao sair da cidade vimos
uma grande fila, pois estão construindo as pontes e a travessia é somente
botando o carro no rio. A correnteza estava muito grande e conversando com as
pessoas, muitas delas esperando a mais de cinco dias para atravessar. Tinha uma
camionete carregada de mantimentos para levar para os mineiros e também
aguardava o rio baixar. Vimos que não iríamos conseguir neste dia e voltamos
para mais um dia na cidade de Uyuni.
No dia seguinte, voltamos
para fila e fui lá à frente conversar para ver os ânimos do pessoal e se iria
dar para atravessar o rio. O cidadão da camionete já não aguantava mais, pois
os mantimentos corriam o risco de se perder. Resolveu atravessar. Soltou o cabo
do guincho, e outra pessoa levou por cima da ponte, pois permitia passar
pedestre precariamente. No outro lado, fixou e começou a travessia. A plateia
de curiosos era muito grande! A cena foi inacreditavelmente espetacular! O
carro foi levado pela correnteza e a sorte era o cabo de aço segurar o carro
pela frente. A água batia na lateral e entrava no carro. Um caminhão 6x6 foi
atravessar para retirar a camionete que estava presa no banco de areia. Quando
o caminhão entrou, a agua bateu no para-brisa, e aí vi que não tinha jeito para
nós atravessar. O caminhão retirou a van e não maiores problemas, só os
mantimentos perdidos. Olhei para as montanhas e continuava a chover, não tinha
outra saída e sim mudar os planos. Resolvemos voltar para Sucre e Potosí e
rumar para entrar no Chile pelo Passo Tambo Queimado/ Chungará. Maravilha de
passo! Rumamos para Arica num total de 1.213 km percorrido desde o Salar de
Uyuni.
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